sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

SONHO PROFÉTICO

   
Sonhou à noite?
vai acordar de dia,
sendo o que via!

Nota do autor:
“O inconsciente tem ampla visão do eterno aqui e agora”

PRÓPRIO PÂNICO


Quando o Drácula
começa a perseguir
seu próprio sangue,
este é o momento
em que nele
surge o pânico!

Aí ele não vê
sua própria imagem
no espelho.

Nota do autor:
”Visão panicada e vazia no espelho”


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

JOGO ...


Mundo incerto
onde tudo se confunde,

de um lado,
é raro perfume,
de outro,
mau costume;

não devia,
desigual loteria!

Nota do autor:
“E o princípio da simetria?”

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

JOGAR ...


Domingo
é dia de “bingo”,
de perder para o “Ringo”,
e ganhar
só um “pingo”.

Nota do autor:
“Têm coisas na vida que nos levam muito mais do que nos dão.”


FORMA


Mulher sem véu,
homem de chapéu ...

Nota do autor.
“O mesmo ser ...”

Roberto Armorizzi

FAÇA...


Olhe ao seu redor,
faça tud’o que quiser,
menos não amar...

Nota do autor:
“Deixar de amar não é fazer o que se quer. Ou é?”

Roberto Armorizzi

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

“SURURU” NA COLMEIA


Voam abelhas,
reboliço na colmeia
borbulhas de mel!

Nota do autor.
‘O “sururu” ocorre onde há muito mel.’


NÃO-LINEAR


Sistema vivo:
aberto onde está,
fechad’onde é!

Nota do autor.
’O sistema vivo é aberto no “ente”, porém fechado no “ser”.’

VALORES


É na fronteira dos céus
que os bons se defrontam,
e na total varredura,
as vassouras se encontram,

sem, no entanto, deixarem
de soltar piaçabas,
as quais “sujam”
a limpeza do chão.

Cal da terra,
claro berço da vida,
céu e chão,
doce ilusão perdida.

Nota do autor.
“Procuramos no céu o que está na terra.”

domingo, 19 de dezembro de 2010

TUNDRA


Gélida tundra,
força opressora do mal,
corpo carnal.

Nota do autor.
“Corpo corruptor da alma.”

sábado, 18 de dezembro de 2010

BURIL


Perdido na fúria
de um dia de sol,
não olho a penúria,
mas vej'o paiol
que explode minh'alma,
de modo sutil,
invade-me a calma,
perfurante buril.

Quero enfim ser feliz,
mas felicidade é surto,
período tão curto,
que o tempo não diz.

Nota do autor:
"O tempo nos rouba a beleza."

Roberto Armorizzi

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

CAMINHO


O galho evola frescor,
a ave constrói seu ninho,
o mundo esquece o'amor,
a vida ladeia o caminho.

Nota do autor.
"Vista lateral noturna do metrô norte."

domingo, 12 de dezembro de 2010

O TREM


Que barulho ruim!
Já sei o que é! Eu, hein?!
Apito de trem!!!

Nota do autor.
“Sério incômodo para quem reside perto de via férrea.”

Roberto Armorizzi

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

LARGUE O TEMPO


Largue’a ideia que se faz do tempo,
para qu’ele não se escoe cedo,
deixe o rosto ao passar do vento,
e a vida correrá sem medo.

Nota do autor.
“O tempo não quer você. Ele quer seu tempo”

Roberto Armorizzi

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

METRÔ-NORTE


Olho à noite,
de dentro do metrô-trem,
não vejo ninguém.

Nota do autor.
“Vista lateral noturna do metrô norte.”


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

OLHAR SEU E MEU


Não olho você.
Por que me olha tanto?
Não vejo você.

Nota do autor.
“É claro que olho e vejo você, senão eu jamais saberia que você me olha tanto.”


SILFA DE HOJE-EM-DIA


Quem “mais ria”?
A dor que’o berço do mundo,
paria?
Agora, tanto amor não viria

de’uma autêntica
silfa de hoje-em-dia.
Era triste’a flor que o tempo
havia,

mas hoje ela caminha
a largo passo,
no caso de andar sem laço
e sonho, pela via.

Nota do autor.
“O amor sofrido de antanho, não o ferem mais nossos dias.”

domingo, 5 de dezembro de 2010

AFLITO INFINITO...


Queres, eu sei, tocar o infinito,
é este o teu discurso mais bonito,
mas vejo que ficas bem mais aflito,
por seres assim infinitamente finito.

Nota do autor.
“O infinito não nos alcança.”


SER FELIZ ...

Mário, seja sempre solidário;
Maria, por favor, sorria;
Fernando, viva a vida cantando;
Fernanda, siga o toque da banda ...

Nota do autor.
"Ser feliz é seguir a correnteza?"

TALVEZ ESTE SEJA UM PENSAMENTO ANTIPÁTICO

"Para sermos amados temos que sempre renovar a maquiagem de nossos duplos rostos."

VOZ


Terá voz, a voz?
A voz cala toda voz?
Será voz, a voz? ...

Nota do autor.
"Como interpretar a voz?"

terça-feira, 30 de novembro de 2010

SAIA DA MORENA


Hoje m’embolo
na saia da morena,
que não cobre’o véu...

Nota do autor.
“O amor invade o sagrado.”

Roberto Armorizzi

POLUIÇÃO...


Carros passando
e pessoas pensando...
Cheiro de enxofre!

Nota do autor.
“Uma questão: o que mais polui?”

Roberto Armorizzi

EU CRESCI PARA VER ...



... Foi aí qu’eu vi
O mundo pensar grande,
E ficar pequeno!

Nota do autor.
“Queria ser imortal para ver onde isso vai chegar”

Roberto Armorizzi

QUEM SERÁ?

Quem será este ser invisível
que tens assim próximo ao peito?
Será teu feliz mundo
mais-que-perfeito?
Ou algum triste rastro
de dor e amor desfeito?
Será teu seguimento
ou apenas amor de momento?
Será ser-do-teu-ser
ou apenas testamento?

Será’o bastante fazer?

Conceber,
sublime momento!

Nota do autor.
“Amar não é brincar de amor.”

Roberto Armorizzi   

ACORDO

 Outra vez, dormi.
Desta vez, sem concordar,
vou ter que acordar.

Nota do autor.
“Às vezes, a falta de atenção nos impõe o acordo.”

Roberto Armorizzi

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

CRER, CRIAR...


Em sua volta,
há um mundo que é seu.
que’os outros criam.

Nota do autor.
'”Não pense que o mundo é só seu. Nem mesmo o seu.”

Roberto Armorizzi

OLHAR


Olhar a mim mesmo,
   me faz arrogante,
olhar para os outros,
   me faz castrador;
olhar para o falso,
   me faz delirante,
olhar para a brisa,
   me faz sonhador;

nunca sou
quem se espera que seja,
   assim eu vou;
sempre quero
que o mundo me veja,
   aqui estou;

mas, com juros e multas,
   cobra-me a dor;
olhar para a vida,
   me faz mais amor.

Nota do autor.
'Sou um ser normal, um misto de "eus", entre o bem e o mal.'

Roberto Armorizzi

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PESAR

Ninguém o’esquece;
no canto do olho,
ele aparece...

Nota do autor.
“É só distrair um pouquinho, e ele surge do nada, pela lateral da visão.”

Roberto Armorizzi

PENA


Pérola linda,
dentro da ostra,
cresce;

vida tão finda,
folha que’um dia,
desce;

a joia, ilumina,
o saibro, ensina,
com pena, cobre,
a vida menina.

Nota do autor.
“O amor se dissolve no ciclo do mundo.”

Roberto Armorizzi

POR UMA ROSA AMARELA

... A bela rosa amarela,
que amor,
aqui, ali, acolá,
ela sempre está ,
entre as flores em rosa,
na espinheira viçosa,
entre as rosas em flor...

Nota do autor.
"Em qualquer lugar do mundo há uma rosa amarela a nossa espera."

Roberto Armorizzi

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ENCONTRO DE VAIDADES

Aí está
o segredo do “encontro”,
harmonizar nossa vaidade
com a vaidade do outro.

Nota do autor.
“E, por falar em vaidade...”

Roberto Armorizzi

A GRAÇA ESTÁ NO RISO

O mundo

não é de “graça”,

mas nos vende

o que’é preciso;



mas a vida

é melhor vivida

se for repleta

de muito “riso”!



Nota do autor.

‘O “riso” é sempre de “graça”.‘



Roberto Armorizzi

FELIZ?

Você é feliz?

Você sabe pôr seu nariz

naquilo que diz?

...

Nota do autor.

“O que significa ser feliz?”


Roberto Armorizzi

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A GRAÇA ESTÁ NO RISO

O mundo

não é de “graça”,

mas nos vende

o que’é preciso;


mas a vida

é melhor vivida

se for repleta

de muito “riso”!


Nota do autor.

‘O “riso” é sempre de “graça”.‘


Roberto Armorizzi

ENCONTRO DE VAIDADES

Aí está

o segredo do “encontro”,

harmonizar nossa vaidade

com a vaidade do outro.


Nota do autor.

“E, por falar em vaidade...”


Roberto Armorizzi

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

ARTISTA, NÃO HÁ

Arte, está na vida, na razão, na paixão,
naquilo que traz
coisas boas;

mas...

Artista, não há.
A verdade está na arte
do comum,
no amor das pessoas.

Nota do autor:
"Gostaria de citar uma nota, mas fugiu-me o significado."

Roberto Armorizzi

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

BELA NOITE PASSADA EM DIA


Volvia magia,
sorrindo para’a via,
pensar’o dia,
dia e noite,
queria.
Antes de nascer’o dia,
morria,
mas morto, vivia
um lindo sonho,
em noite vadia.

Nota do autor.
“Solto no ar, pendia.”

Roberto Armorizzi

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DISCURSO PONTUAL

Eu vou conversar,
amanhã, não direi,
hoje vou falar.

Nota.
"Tem que ser agora. Amanhã, não dará mais."

Roberto Armorizzi

domingo, 17 de outubro de 2010

RIDÍCULO POEMA

Película,

retícula

mútua;



cubícula,

vesícula

putua!



Nota do autor.

Todo poeta deve reservar alguns momentos para compor poemas ridículos.

Roberto Armorizzi

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

PEDACINHO DE NATUREZA


             A viagem neste ônibus, longa e cansativa, causa-me agora desagradável início de tédio. Eu procuro inventar coisas para fazer, objetivando distrair minha atenção e obter um pouco de conforto psíquico ante a mesmidade desta situação. Creio que os demais passageiros também teriam semelhante sensação se os mesmos existissem. Ocorre que sou o único ocupante deste veículo que sequer tem motorista.
           Começo a ter recordações de meu tempo de criança quando, para mim, viajar de ônibus era uma festa, uma linda aventura, pois eu adorava quando meu pai e minha mãe me levavam em algum lugar para o qual precisavam ir com auxílio do referido transporte. Eu ia, o tempo todo, apreciando a paisagem, o que me fazia transbordar de alegria, mas ficava triste quando a viagem terminava e eu tinha que voltar para casa.
           Eram tempos de descobertas, quando eu tomava contato com as coisas do mundo que me cercava. Tudo era novo e deslumbrante como o brinquedo que se ganha de presente no Natal, aniversário ou quando se tira nota alta na escola. Tinha a mesma sensação. Tudo isso era como achar maravilhosos tesouros ocultos nas verdades do mundo encantado no qual vivia.
           Hoje, encontro-me nesta longa viagem de infinitas horas, sem sequer ter uma parada, mesmo rápida, que pelo menos dê tempo para tomar um cafezinho ou um copo d’água.
           Para completar, forma-se uma típica situação, pois me vejo dentro de um demorado engarrafamento de trânsito.
           Meu ônibus encontra-se agora parado na frente de uma loja muito antiga, aparentemente desabitada, com suas velhas passagens fechadas através de selos, a sugerir ante a visão de paredes, portas e janelas bastante prejudicadas, um estado de completo abandono.
           Fico, assim, olhando para este curioso cenário, à procura de algo interessante para ver, mas não vislumbro nada que desperte minha atenção em termos de alguma satisfação visual.
           Depois de examinar com os olhos cada detalhe da parte frontal desta construção, supostamente sem habitantes, em plena cidade do Rio de Janeiro, instintivamente elevo meu olhar em direção à parte superior da velha construção. Neste momento, tenho a sensação de que meus olhos brilham de deslumbramento, pois no alto do frontispício do prédio há uma sacada que mais parece um grande escaninho e dentro de um dos espaços retangulares a ele pertencentes, vejo, acomodada em atitude de sublime repouso, uma linda e delicada pombinha branca, que pode ser vista em seu inteiro perfil.
            Sou, então, invadido por inenarrável felicidade ao ver este “pedacinho de natureza” mostrar a presença de sua paz, repleta de beleza e plenitude em meio à desastrosa imensidão de frias vigas e pilastras de concreto que compõem a aglomerada e compacta desunião que caracteriza a habitual performance da grande metrópole.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O MENINO-GAFANHOTO

           Numa certa manhã ensolarada uma turminha de crianças se dirigia para o rio a fim de dar uns mergulhos em suas rasas margens. Eles caminhavam brincando e cantarolando lindas canções.

           Não tinham pressa, pois ainda era muito cedo. É que esses meninos haviam acordado bem antes do sol despontar no horizonte, para poder ficar mais tempo no rio.

           Um deles, Joãozinho, era tímido, mas apesar disso acompanhava a turma de amigos por todos os lugares aonde iam.

           As pessoas, geralmente, achavam Joãozinho muito quieto, e que não tinha energia suficiente para criar e realizar brincadeiras que todos gostavam de participar. Achavam que ele jamais faria algo importante.

           E assim, os amiguinhos iam caminhando pela ruazinha cercada de bosques, em direção ao rio, quando de repente Joãozinho olhou para o lado e viu sobre a folha de uma planta silvestre, um alegre e saltitante gafanhoto.

           Então, pensou:

          - Deve ser legal ser gafanhoto. Eu queria ser um deles para poder pular livremente entre as folhagens.

           Nisso, ele começou a notar que tudo em volta ia aumentando de tamanho, até que se viu bem pequeno, do tamanho de um...gafanhoto! A força do seu pensamento fez com que se transformasse naquilo que, naquele momento, queria ser: um gafanhoto! Que mente forte tem o menino!

           - Nossa, eu virei um gafanhoto! Exclamou espantado.

            Sem que seus amiguinhos se dessem conta do que estava acontecendo, ele havia se transformado em algo diferente: um inseto!

            Joãozinho percebeu então que vinham chegando, cada vez mais, outros gafanhotos.

            Nesse momento, o céu começou a escurecer assustadoramente. Os meninos não sabiam bem o que estava acontecendo, mas não demoraram a ver que aqueles animaizinhos estavam invadindo toda a área. Era, na verdade, uma imensa nuvem de gafanhotos assolando aqueles campos, nos quais havia também muitas plantações.

            No meio de todo o alvoroço, a turma de crianças saiu do rumo. O grupo estava perdido no meio daquele bosque.

            Joãozinho viu que estava no meio de uma explosão de insetos. Tinha plena consciência do grande problema que aquilo significava. Ele sabia que precisava ajudar os amigos que estavam perdidos, e também impedir que os gafanhotos devastassem tudo, inclusive as plantações.

            Muita gente acha que gafanhoto não pensa, mas Joãozinho, que naquele momento era um deles, pensou, e bem rápido. Posicionou-se na frente da nuvem e conduziu-a para o rio.

            Depois que o último inseto caiu na água, e após todos eles serem levados pela correnteza, não se sabe para onde, o menino tímido voltou à sua antiga forma humana.

            Seus amiguinhos, ainda aturdidos, resolveram logo voltar para casa e nem perceberam o grande feito de Joãozinho.

            Muitos não compreendem que tem gente que realiza grandes e nobres ações em benefício do bem comum, mas sempre no anonimato, sem se importar com quaisquer reconhecimentos e sem revelar aquilo que são:

            “Grandes defensores da humanidade!”

            Roberto Armorizzi

O PARDAL SEM RABO

          Minha casa ficava em São Bernardo, um lugar bem afastado da civilização, mas eu gostava muito de lá.
          Nossa escola era pública, aliás a única que existia por ali. Naquele tempo sobravam vagas, e as crianças nunca ficavam sem estudar.
          Eu era um menino, desses que se podia classificar como “levado”, talvez porque fosse bastante sonhador e, por isso, sempre estava inventando as mais diferentes brincadeiras.
          Eu tinha um amigo que morava no outro quarteirão. Ele se chamava Juquinha. Este era de verdade, mas havia outros invisíveis, os quais não tinham nome, pois eu considerava que eles simplesmente eram.
          Todo dia minha mãe me acordava bem cedinho para ir à escola, e quando voltava da mesma, eu almoçava e ia correndo brincar.
           De tardinha, quase à noite, meu pai chegava do trabalho e me chamava para estudar. Eu não gostava muito, pois era hora de parar com minhas brincadeiras.
          Numa dessas tardes de folguedo, eu estava brincando no quintal quando reparei que um pardal estava em seu ninho, no telhado da casa, mas com o rabo para o lado de fora. Eu, como era um garoto peralta, quis logo arranjar um jeito de capturar aquele arisco passarinho. Para isso, peguei bem depressa uma escada e escalei a mesma até alcançar as penas da exposta cauda. Quando logrei êxito neste intento, puxei para fora do ninho a assustada avezinha que, desesperadamente, começou a bater as asas, na tentativa de escapar daquela desfavorável situação. Todo o esforço despendido fez com que as penas se soltassem, ficando as mesmas em minha mão. Neste momento, fiquei frustrado em meu instinto de caça ao ver aquele serzinho alado, a fim de aliviar um pouco seu cansaço, pousar por uns instantes sobre o muro, olhar para mim e, logo em seguida, alçar voo, desaparecendo no meio da mata.
          Durante muito tempo aquele simpático pardalzinho sem rabo apareceu por lá pousando sobre os galhos e entre as folhas das árvores, mas tratou de transferir seu ninho para outro local mais seguro.
          Hoje, quase cinquenta anos depois, ainda existe em minha mente, a lembrança daquele personagem. E, numa bonita manhã de sol, perguntei a mim mesmo:
          - Onde será que anda o tal pardalzinho sem rabo?
          E num repente, olhei pela janela e vi pousado num dos galhos da árvore em frente um belo passarinho sem rabo. E era um pardal!
          Bastante surpreso, exclamei:
          - Faz muito tempo, não pode ser ele!
          Mas na verdade, lá estava. Olhou para mim, soltou um piado característico e voou, desaparecendo em meio aos prédios do bairro.
           Meus olhos ficaram tristes com saudade de um tempo em que pássaros logravam voar livremente pelos bosques, onde um dos poucos perigos que podiam encontrar era algum menino travesso a tirar as penas de sua cauda.
        
            Roberto Armorizzi

domingo, 3 de outubro de 2010

DES-EMBRULHOS

Entre ruas, de caminhos percorridos,
há barbantes de embrulhos, esquecidos;
mesmo’em sendas de asfaltos esquisitos,
vou, cercado de oitavas e’infinitos.

Nota do autor.

"Barbantes de embrulhos desfeitos, sem desate das pontas, são, nas ruas, descartados e passam a formar símbolos de infinito e renovação."

Roberto Armorizzi

POEMA DA JOANINHA

Quem viu, quem viu,
joaninha pintadinha,
no galho da passarinha?

Quem foi que viu,
joaninha tão faceira,
no galho da goiabeira?

Você já viu,
joaninha bem formosa,
no galho do pé de rosa?

Ainda não viu?
Olha só, mas que peninha,
quem não viu a joaninha,
veio’ao mundo e não sorriu!


Nota do autor.

"Uma história de esperança, para o mundo pensar criança.”

Roberto Armorizzi

terça-feira, 21 de setembro de 2010

BRINCAR COM SIGNIFICADOS

Este texto não é para ser interpretado de forma literal.

Quero, neste momento, expor uma questão, que a despeito de opiniões contrárias, reputo filosófica.

Tomemos como exemplo demonstrativo, a chuva.

Em qualquer lugar, ao ar livre, onde não haja qualquer coisa que sirva de cobertura, a chuva pode cair ao chão sem nenhum motivo impediente.

Dentro de uma casa ou em qualquer outro ambiente fechado, a chuva geralmente não cai em seu interior, em razão de um fator impeditivo que pode ser um telhado ou algo que o valha. Porém, se houver orifícios, rachaduras, etc., no recinto, a água da chuva poderá cair no interior desse espaço coberto.

Mas há lugares onde a chuva não tem possibilidade alguma de cair. Tais lugares situam-se, por exemplo, no fundo do mar, uma vez que tal ambiente é composto, em sua totalidade, obviamente de água.

Agora, deve-se formular uma pergunta em razão da suposta validade de sentido, pelo menos do ponto de vista da quantidade.

Para quê chover sobre o mar?

Isto é algo incompatível com a lógica, uma vez que já há quantidade suficientemente grande de água no oceano, inviabilizando a necessidade da chuva.

O que se pode aproveitar da leitura de um texto como este?

Eis a questão...


Nota do autor.

Estamos cercados de um completo caos universal. Nossas mentes é que interpretam o universo caótico que nos rodeia, categorizando, ou seja, medindo, quantificando, qualificando, analisando, nomeando, etc. São, assim, criados diversos paradigmas que nos dão ilusão de organização e equilíbrio.

A linguagem nos permite brincar com as significações criadas.

Roberto Armorizzi

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

METÁFORA DA “LAMBANÇA”

“Lambança”,
balança
não alcança.

Nota do autor.
"Não dá para mensurar, com ética, certos comportamentos."

terça-feira, 14 de setembro de 2010

NÃO ACHEI UM TÍTULO PARA ESTE TEXTO



Castelo, soldado a bater;
soldado, castelo a beber!

Farinha, barriga a encher;
barriga, farinha a caber!

Fazenda, cavalo a correr,
cavalo, fazenda a querer!

Pessoa, cidade a crescer;
cidade, pessoa a sofrer!

Nota do autor.
‘A “desordem da ordem” tirou-me o sentido de encontrar um título para esta poesia e de expressar uma nota que não fosse esta explicação.’

Roberto Armorizzi

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

TRAÇOS ETERNOS

Quero olhar para você
e cantar suas canções,
quero falar com você
e ouvir suas razões;

é tão bom saber
que traços eternos
levam luzes
de seus pensamentos;

é bom compreender
que longos invernos
encerram mil sombras
de tantos momentos;

mas para que chorar,
se vale a pena sorrir?

Então;

“apague” a sombra,
vem, na luz, investir;
“acenda” o brilho,
par’a vida seguir.

Nota do autor.
‘Não faça caso da luz perdida. “Acenda” o brilho.’

Roberto Armorizzi

BOM-DE-BOLA

É certo que o mundo é‘uma bola,

que está sempre por um segundo,

porém, jamais é “bom-de-bola”

aquele que “chuta o mundo”!


Nota do autor.

“A vida é bola no pé.”


Roberto Armorizzi

ALITERAÇÕES SOBRE O “COMER”


Conversas amáveis,
de formas “cantáveis”,
fingindo duráveis,
enfim, só “gozáveis”;

manjares “comíveis”,
saltando seus níveis,
mostrando, visíveis,
os dons acessíveis;

emoções volúveis,
momentos tão dúbeis
questões insolúveis,
que vivem nas “nuvens”.

Nota do auto.
“Situações as quais comer nem sempre é comer.”

Roberto Armorizzi

sábado, 4 de setembro de 2010

QUESTÃO FILOSÓFICA

Deus existe?
Homem insiste?
Diga, Nietzsche!

Nota do autor.
“Uma resposta em cada um”

Roberto Armorizzi

terça-feira, 24 de agosto de 2010

NUDEZ MATINAL


Mui’sensual, ao sublime, igual,
é o despir do véu que hoje cobre
sua louca e linda nudez matinal –
quero-a em mim, nueza imoral,
neste amor que já não tem mais fim.

Sou enfim em seu querer se dar,
há você para meu viver, amar,
lembrar
de quando primeiro beijo se deu
feliz porque se quis, estar.

Carne e espírito se unem agora
nesta manhã de luz, que o dia abre...
e deita-se sobre as flores do campo,
das quais flui o néctar
na explosão do desejo,

quando o prazer revigora o sonho,
onde vejo-me solto
e puro neste ensejo
de amor, que ora vejo...
e festejo...
em mim...
em você...
com você...


Nota do autor.
“A sublime beleza de’um fazer amor ao amanhecer.”


Roberto Armorizzi

SUBLIMES MOMENTOS



São estas pessoas,
tão belas pessoas,
que cantam, que dançam,
declamam,
e’em seu longo’espetáculo,
com muito carinho,
a vida, ensaiam;

são tantas pessoas,
que vêm e se juntam,
tão ricas de alma,
sorrindo com calma,
e’em seus grandes mundos,
se fazem caminhos,
para que deles não saiam;

pessoas queridas,
que amam a vida,
que fazem amigos,
do amor, são abrigos,
que pedem passagem
e criam momentos
de sonhos em flor;

felizes pessoas,
tão fortes e boas,
qu’em nós se expressam,
não param, se apressam,
e sem distinção,
e pura emoção,
ofertam amor.



Ah, é tão lindo este momento,
não dá para esquecer, não dá,
gestos que nos trazem vida,
atos que nos dão coragem,
tempo que nos quer seguir,
mas, enfim, nos faz sorrir.

Ah, momento, belo momento,
de afetos que fazem risos,
de cores em tons precisos,
de vontade de amar a vida,
sentir, calar, olhar, falar
do momento que nos traz aqui!



Olha, amor,
dê mais um sorriso,
outro e mais outro,
sempre, sempre mais,
olha, o mundo sorri sem pensar,
e canta pela voz dos pássaros,
e dorme para “nos sonhar”,
e corre ao passar dos rios,
sem chorar...

Olha, amor,
Abra logo este sorriso,
outro e mais outro,
sempre, sempre mais e mais,
olha, belo instante de ternura,
que se forma e não dura,
num instante vai passar,
vão ficar só os momentos,
com o tempo de amar!



Para todos vocês, um beijo,
um beijo no coração -
eu queria dizer que beijo
pode ser sonho, mera’ilusão,
mas, podem crer, este beijo,
é momento, sim, mas de amor,
o amor do amor,
em sincera demonstração.

Para quem está aqui, um beijo,
um beijo para ficar -
agora,
eu queria afirmar qu’este beijo,
não é sonho ou mera’ilusão,
não,
o beijo que’aqui se dá
é mais que amor do amor,
é amor confraternização!



Momentos são mesmo assim,
vêm e vão ao passar das brisas,
mas ficam marcados, sim,
em lembranças ativas,
que formam um todo
de raro esplendor.

Momentos são sempre assim,
vêm e vão com’o cair das folhas,
mas ficam voltados, enfim,
para outras escolhas,
de’um novo mundo,
a pedir mais amor.


Nota do autor.
“Poemas denotando apenas momentos.”


Roberto Armorizzi

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

TRISTEZA DE PORTA

A mais esquecida é a porta,

já não é assim com a janela,

pois esta, a paisagem reporta,

e a outra, “se passa por ela”!


Nota do autor.

‘Pela porta, apenas passamos. Na janela, paramos para observar a paisagem do lado de fora. Há também a questão da porta “querer se passar” por janela, denotando falta de autenticidade. Percebe-se tais facetas graças ao duplo sentido demonstrado pela expressão “se passa por ela”.’


Roberto Armorizzi

TERAPIA DO GIBI

Quanto gibi eu já li,
quanto gibi eu pedia,
quanto gibi eu já vi,
quanto gibi eu queria.

Eu sonho ao ler gibi,
eu troco gibi e exponho,
gibi, eu nunca esqueci,
gibi não é enfadonho.

É muito bom ter gibi,
gibi faz bem par’a vista,
gibi, eu nunca vendi,
não dou gibi, não insista.

Só quero saber de gibi,
somente gibi me’interessa,
eu, lendo gibi, não sofri,
pois só o gibi desestressa.

Nota do autor.
“Ler gibi, um hábito desde a infância.”

Roberto Armorizzi

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ENTRE O ERRO E O ACERTO

Que triste destino

de um ser perdido,

sofrido, exaurido,

por não saber errar;



tão só, pequenino,

de queixo caído

e coração partido,

por não querer chorar;



gentil, tão fino,

por dentro, ferido,

do caminho, banido,

sem poder voltar;



que’incrível destino,

volto a lamentar,

faço tudo sem zelo

para, com erro, festejar;



mas, enfim,

ai de mim,

é mesmo assim,

não consigo, é o fim,

do acerto, escapar!



Nota do autor:

“Erro e acerto, qual dos dois tem conserto?”

 
Roberto Armorizzi

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

TRÊS EM UM

Comentar sobre ti?

nem quero lembrar,

no muito, posso pensar,

mas falar, nem pensar...





Eu não sou esquizofrênico,

nem mero “esquizofrenista”,

ah, sim...eu sou “acadêmico”

da “boa” esquizofrenia...





Verdade, eu sou poeta,

se todos me veem assim,

é outra, porém, minha meta,

“mesmice bela” não é para mim...



No mais, queiram ler nas aspas e reticências, se acharem viável.



Nota do autor:

‘Apenas um questionamento: “o discurso está nas entrelinhas?” ‘


‘Observação final: “este texto é mais para ser lido do que para ser declamado ou dito.” ‘



Roberto Armorizzi

ILUSÕES DE VISÕES NA ORLA




Não deixe a água rolar,

corre, corre para o mar!

Os períodos acabam,

a ponto de se inventar momentos,

tão sedentos



de fazer voltar a vida

num instante,

na sensação errante

de se estar pendurado

num pedaço de barbante.



Um dia tudo isso se espraia

num fluxo de água e areia,

na beira da praia;

essa meiga e bela visão rara,

queremos que jamais se esvaia.



Nota do autor:

"Lugar sem sombra porque a luz é maior."
 
Roberto Armorizzi

SER ABISSAL

Beleza indômita no fundo do ser,

mascara ilusões que não ousa dizer,

só pede, na paz, para enfim se evadir,

e’em fluxos de manchas, na tela, existir.



Beleza sofrida, recôndita está,

tão bela’é ferida mais funda que há,

emerge do sonho e lança-se ao céu,

e cai sobre o pano, pintando esse véu.



O quadro recebe tal força de amor,

a tinta se espalha com arte e frescor,

mas quando percebe que o mundo se esvai,

retorna ao abismo, ess’alma que cai.



Nota do autor:

“Um ser que emerge do fundo de si mesmo, deixa sua marca de beleza na obra de arte e depois mergulha de volta ao seu abismo de origem.”


Roberto Armorizzi