quarta-feira, 27 de outubro de 2010

ARTISTA, NÃO HÁ

Arte, está na vida, na razão, na paixão,
naquilo que traz
coisas boas;

mas...

Artista, não há.
A verdade está na arte
do comum,
no amor das pessoas.

Nota do autor:
"Gostaria de citar uma nota, mas fugiu-me o significado."

Roberto Armorizzi

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

BELA NOITE PASSADA EM DIA


Volvia magia,
sorrindo para’a via,
pensar’o dia,
dia e noite,
queria.
Antes de nascer’o dia,
morria,
mas morto, vivia
um lindo sonho,
em noite vadia.

Nota do autor.
“Solto no ar, pendia.”

Roberto Armorizzi

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DISCURSO PONTUAL

Eu vou conversar,
amanhã, não direi,
hoje vou falar.

Nota.
"Tem que ser agora. Amanhã, não dará mais."

Roberto Armorizzi

domingo, 17 de outubro de 2010

RIDÍCULO POEMA

Película,

retícula

mútua;



cubícula,

vesícula

putua!



Nota do autor.

Todo poeta deve reservar alguns momentos para compor poemas ridículos.

Roberto Armorizzi

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

PEDACINHO DE NATUREZA


             A viagem neste ônibus, longa e cansativa, causa-me agora desagradável início de tédio. Eu procuro inventar coisas para fazer, objetivando distrair minha atenção e obter um pouco de conforto psíquico ante a mesmidade desta situação. Creio que os demais passageiros também teriam semelhante sensação se os mesmos existissem. Ocorre que sou o único ocupante deste veículo que sequer tem motorista.
           Começo a ter recordações de meu tempo de criança quando, para mim, viajar de ônibus era uma festa, uma linda aventura, pois eu adorava quando meu pai e minha mãe me levavam em algum lugar para o qual precisavam ir com auxílio do referido transporte. Eu ia, o tempo todo, apreciando a paisagem, o que me fazia transbordar de alegria, mas ficava triste quando a viagem terminava e eu tinha que voltar para casa.
           Eram tempos de descobertas, quando eu tomava contato com as coisas do mundo que me cercava. Tudo era novo e deslumbrante como o brinquedo que se ganha de presente no Natal, aniversário ou quando se tira nota alta na escola. Tinha a mesma sensação. Tudo isso era como achar maravilhosos tesouros ocultos nas verdades do mundo encantado no qual vivia.
           Hoje, encontro-me nesta longa viagem de infinitas horas, sem sequer ter uma parada, mesmo rápida, que pelo menos dê tempo para tomar um cafezinho ou um copo d’água.
           Para completar, forma-se uma típica situação, pois me vejo dentro de um demorado engarrafamento de trânsito.
           Meu ônibus encontra-se agora parado na frente de uma loja muito antiga, aparentemente desabitada, com suas velhas passagens fechadas através de selos, a sugerir ante a visão de paredes, portas e janelas bastante prejudicadas, um estado de completo abandono.
           Fico, assim, olhando para este curioso cenário, à procura de algo interessante para ver, mas não vislumbro nada que desperte minha atenção em termos de alguma satisfação visual.
           Depois de examinar com os olhos cada detalhe da parte frontal desta construção, supostamente sem habitantes, em plena cidade do Rio de Janeiro, instintivamente elevo meu olhar em direção à parte superior da velha construção. Neste momento, tenho a sensação de que meus olhos brilham de deslumbramento, pois no alto do frontispício do prédio há uma sacada que mais parece um grande escaninho e dentro de um dos espaços retangulares a ele pertencentes, vejo, acomodada em atitude de sublime repouso, uma linda e delicada pombinha branca, que pode ser vista em seu inteiro perfil.
            Sou, então, invadido por inenarrável felicidade ao ver este “pedacinho de natureza” mostrar a presença de sua paz, repleta de beleza e plenitude em meio à desastrosa imensidão de frias vigas e pilastras de concreto que compõem a aglomerada e compacta desunião que caracteriza a habitual performance da grande metrópole.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O MENINO-GAFANHOTO

           Numa certa manhã ensolarada uma turminha de crianças se dirigia para o rio a fim de dar uns mergulhos em suas rasas margens. Eles caminhavam brincando e cantarolando lindas canções.

           Não tinham pressa, pois ainda era muito cedo. É que esses meninos haviam acordado bem antes do sol despontar no horizonte, para poder ficar mais tempo no rio.

           Um deles, Joãozinho, era tímido, mas apesar disso acompanhava a turma de amigos por todos os lugares aonde iam.

           As pessoas, geralmente, achavam Joãozinho muito quieto, e que não tinha energia suficiente para criar e realizar brincadeiras que todos gostavam de participar. Achavam que ele jamais faria algo importante.

           E assim, os amiguinhos iam caminhando pela ruazinha cercada de bosques, em direção ao rio, quando de repente Joãozinho olhou para o lado e viu sobre a folha de uma planta silvestre, um alegre e saltitante gafanhoto.

           Então, pensou:

          - Deve ser legal ser gafanhoto. Eu queria ser um deles para poder pular livremente entre as folhagens.

           Nisso, ele começou a notar que tudo em volta ia aumentando de tamanho, até que se viu bem pequeno, do tamanho de um...gafanhoto! A força do seu pensamento fez com que se transformasse naquilo que, naquele momento, queria ser: um gafanhoto! Que mente forte tem o menino!

           - Nossa, eu virei um gafanhoto! Exclamou espantado.

            Sem que seus amiguinhos se dessem conta do que estava acontecendo, ele havia se transformado em algo diferente: um inseto!

            Joãozinho percebeu então que vinham chegando, cada vez mais, outros gafanhotos.

            Nesse momento, o céu começou a escurecer assustadoramente. Os meninos não sabiam bem o que estava acontecendo, mas não demoraram a ver que aqueles animaizinhos estavam invadindo toda a área. Era, na verdade, uma imensa nuvem de gafanhotos assolando aqueles campos, nos quais havia também muitas plantações.

            No meio de todo o alvoroço, a turma de crianças saiu do rumo. O grupo estava perdido no meio daquele bosque.

            Joãozinho viu que estava no meio de uma explosão de insetos. Tinha plena consciência do grande problema que aquilo significava. Ele sabia que precisava ajudar os amigos que estavam perdidos, e também impedir que os gafanhotos devastassem tudo, inclusive as plantações.

            Muita gente acha que gafanhoto não pensa, mas Joãozinho, que naquele momento era um deles, pensou, e bem rápido. Posicionou-se na frente da nuvem e conduziu-a para o rio.

            Depois que o último inseto caiu na água, e após todos eles serem levados pela correnteza, não se sabe para onde, o menino tímido voltou à sua antiga forma humana.

            Seus amiguinhos, ainda aturdidos, resolveram logo voltar para casa e nem perceberam o grande feito de Joãozinho.

            Muitos não compreendem que tem gente que realiza grandes e nobres ações em benefício do bem comum, mas sempre no anonimato, sem se importar com quaisquer reconhecimentos e sem revelar aquilo que são:

            “Grandes defensores da humanidade!”

            Roberto Armorizzi

O PARDAL SEM RABO

          Minha casa ficava em São Bernardo, um lugar bem afastado da civilização, mas eu gostava muito de lá.
          Nossa escola era pública, aliás a única que existia por ali. Naquele tempo sobravam vagas, e as crianças nunca ficavam sem estudar.
          Eu era um menino, desses que se podia classificar como “levado”, talvez porque fosse bastante sonhador e, por isso, sempre estava inventando as mais diferentes brincadeiras.
          Eu tinha um amigo que morava no outro quarteirão. Ele se chamava Juquinha. Este era de verdade, mas havia outros invisíveis, os quais não tinham nome, pois eu considerava que eles simplesmente eram.
          Todo dia minha mãe me acordava bem cedinho para ir à escola, e quando voltava da mesma, eu almoçava e ia correndo brincar.
           De tardinha, quase à noite, meu pai chegava do trabalho e me chamava para estudar. Eu não gostava muito, pois era hora de parar com minhas brincadeiras.
          Numa dessas tardes de folguedo, eu estava brincando no quintal quando reparei que um pardal estava em seu ninho, no telhado da casa, mas com o rabo para o lado de fora. Eu, como era um garoto peralta, quis logo arranjar um jeito de capturar aquele arisco passarinho. Para isso, peguei bem depressa uma escada e escalei a mesma até alcançar as penas da exposta cauda. Quando logrei êxito neste intento, puxei para fora do ninho a assustada avezinha que, desesperadamente, começou a bater as asas, na tentativa de escapar daquela desfavorável situação. Todo o esforço despendido fez com que as penas se soltassem, ficando as mesmas em minha mão. Neste momento, fiquei frustrado em meu instinto de caça ao ver aquele serzinho alado, a fim de aliviar um pouco seu cansaço, pousar por uns instantes sobre o muro, olhar para mim e, logo em seguida, alçar voo, desaparecendo no meio da mata.
          Durante muito tempo aquele simpático pardalzinho sem rabo apareceu por lá pousando sobre os galhos e entre as folhas das árvores, mas tratou de transferir seu ninho para outro local mais seguro.
          Hoje, quase cinquenta anos depois, ainda existe em minha mente, a lembrança daquele personagem. E, numa bonita manhã de sol, perguntei a mim mesmo:
          - Onde será que anda o tal pardalzinho sem rabo?
          E num repente, olhei pela janela e vi pousado num dos galhos da árvore em frente um belo passarinho sem rabo. E era um pardal!
          Bastante surpreso, exclamei:
          - Faz muito tempo, não pode ser ele!
          Mas na verdade, lá estava. Olhou para mim, soltou um piado característico e voou, desaparecendo em meio aos prédios do bairro.
           Meus olhos ficaram tristes com saudade de um tempo em que pássaros logravam voar livremente pelos bosques, onde um dos poucos perigos que podiam encontrar era algum menino travesso a tirar as penas de sua cauda.
        
            Roberto Armorizzi

domingo, 3 de outubro de 2010

DES-EMBRULHOS

Entre ruas, de caminhos percorridos,
há barbantes de embrulhos, esquecidos;
mesmo’em sendas de asfaltos esquisitos,
vou, cercado de oitavas e’infinitos.

Nota do autor.

"Barbantes de embrulhos desfeitos, sem desate das pontas, são, nas ruas, descartados e passam a formar símbolos de infinito e renovação."

Roberto Armorizzi

POEMA DA JOANINHA

Quem viu, quem viu,
joaninha pintadinha,
no galho da passarinha?

Quem foi que viu,
joaninha tão faceira,
no galho da goiabeira?

Você já viu,
joaninha bem formosa,
no galho do pé de rosa?

Ainda não viu?
Olha só, mas que peninha,
quem não viu a joaninha,
veio’ao mundo e não sorriu!


Nota do autor.

"Uma história de esperança, para o mundo pensar criança.”

Roberto Armorizzi