domingo, 30 de janeiro de 2011

MUNDO PALHAÇO


O palhaço é do circo,
o pão, da padaria,
o pão, fornece o trigo,
o circo, “palhaçaria”.

O circo mostra’o palhaço,
padaria, esconde o pão,
mas pão, do trigo, faço,
padaria na minha mão.

No circo, fico calado,
padaria “me dá trabalho”,
de circo, estou cansado,
sem pão, eu “m’estraçalho”.

Nota do autor.
“O espetáculo circense do pão.”

Roberto Armorizzi

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O QUE SOU



Entrei no brechó,
que susto – vi meu busto,
mudo e vetusto.

Nota do autor.
"Se não quer ver seu busto, não entre no brechó."

“INOCÊNCIA ROMÂNTICA”

          
           Algo inusitado era presenciado quando algum novo morador chegava àquele bairro. Minha rua era divertida, pois havia muitos meninos animados, como eu, ali, naquela época.
           Mas alguns atos “sacanas” eram feitos aos jovens (homens) recém chegados, como por exemplo, deixá-los totalmente nus no meio da rua, pendurando suas vestes e calçados no alto dos fios de eletricidade. Era uma situação vexatória, até que chegassem em casa e vestissem outras roupas.
           Naquele tempo (anos 70), em época de verão, as pessoas ainda podiam dormir com suas janelas abertas, sem medo de ladrões e, por isso, de madrugada, passavam por ali meninos travessos a jogar ovos crus pelas janelas das casas, os quais ao se espatifarem, deixavam o interior das residências, lambuzados de clara e gema.
           Era muito desagradável quando, de manhã, as pessoas despertavam e viam seus quartos e salas melados com o conteúdo de todos aqueles ovos. Porém, no fundo, aquilo não passava de “inocência romântica” que não se vê mais hoje em dia.
           Apesar de nunca participar dessas brincadeiras, confesso que achava aquilo tudo muito engraçado.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

TEMPO DE GARÇAS “MAGRIÇAS”



Garças brancas e “magriças”,
aladas de suas preguiças,
voam no céu, sobre a orla;

outras delas, despencam e descansam
poisadas sobre ilhota pétrea,
cercada de’água salgada e fétida
do mar empoçado de’agora ...

Tudo em volta, chora,
a beira, na mata, embrenha
casas, galpões e até sereias,
umas belas, outras feias ...

Ao fundo do horizonte,
dorme o velho templo,
esplendor sobre íngreme penha,
que o bairro de mesmo nome, desenha ...

E num triste fundo de vidas,
destinos e florestas “escalpeladas”,
natureza e pedra, de tanta ira, ficaram caladas,
desde o dia em que as garças
entenderam que foram fotografadas!

Nota do autor.
"Esperemos que as garças olhem suas fotos."

VERDE AMOR


Onça pintada,
onde está seu verde amor?
Cidade levou!

Nota do autor.
"Não chamem a onça de fera!"

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

DOENTIAMENTE SAUDÁVEL



Ó, vil pedaço de corpo
“de mente” insegura de ser;
qual é o seu mundo autêntico?
Incertezas depressivas,
inconstâncias passíveis
de questões explosivas?

Alma cansada, ou até “penada”,
localizada entre a carne e o espectro,
espasmo, orgasmo do intelecto,
feliz humor de crise,
infeliz aspecto;

desprezo,
questiono,
contesto,
enfim, detesto!

Sofro o desplante
de um pseudo “introspecto” ...

Preciso chegar incólume naquilo que hei de ser!!!


Nota do autor.
"O caminho mais difícil é do próprio eu."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

LUZ QUE OCULTA


A noite volta
para mostrar aquilo
que’o dia esconde.

Nota do autor.
“Há momentos em que a luz ofusca os olhos.”


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O AMOR E O PÓ DOS SÉCULOS



Por que me perturbas,
através deste quadro?
A pintura torna-se viva
quando, com jeito leviano,
tu te deixas pousar
no suporte da lâmpada!

Atormentar-me,
eu sei que pretendes,
em razão d’eu
não querer admitir
que te amo ...

Maldita bruxa!

Por que voas para o quarto,
e quando, de ti, vou atrás,
desapareces, deixando-me perdido
na ânsia do teu encalço?

Quero negar a pintura,
anular feiticeira imagem,
que nela se enquadra ...
Mas não posso!
É a única senda
por onde posso caminhar!

Não, não quero
ver-te passando em voo,
com suas peludas asas
de obscura mariposa,
a espalhar o pó dos séculos,
para, meus olhos, cegar ...
Preciso não enxergar!

Porém, quero sentir-te,
linda na grande obra,
por mim, um dia, pintada,
e nesta vil parede, postada!

Mulher, tu não me esqueces,
nem me deixas esquecer-te ...

De longe, vens,
cruzando o vazio éter,
trazendo o fogoso carinho
que queima
minh’envergad'alma,
que ainda pede por teu amor!

Não importa que a dor,
em vão, não sare meu espírito ...
Estarei sempre, teu retorno, a esperar,
sem querer, nem poder recuar,
pois invade-me ainda,
teu velho amor secular!

Nota do autor.
“Nesta peça poética, o velho amor secular confunde-se com nosso ininterrupto caminho de finitudes.”


domingo, 9 de janeiro de 2011

AMOR DEVAGARINHO


Linda moleca,
eu só quero teu carinho,
bem de mansinho ...

Nota do autor.
“Amor tem que ser bem suave.”


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A VOZ DO MAR


Eu falo do mar,
o mar não fala de mim,
ele fala'em nós.

Nota do autor.
"Discursamos com a voz do mar."

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

PESSOAS DISTANTES


Tudo aquilo que falou,
pensou, ou fez –
passou;

tudo aquilo que deu,
trocou, tirou –
calou;

uma ida que não volta,
sem caminho nem passada,
um exemplo efetivo,
de postura saturada...

Simplesmente, não ficou,
sem presença, ausência,
nada...

Foi momento tão profundo,
de um mundo,
que comeu, não gostou,
e bateu em retirada!

Nota do autor:
“Quando um sentido perde o sentido.”

domingo, 2 de janeiro de 2011

MUNDO SEM LUGAR


Dois demônios, irmãos gêmeos,
tão aflitos zombeteiros,
tão “corretos”, tão boêmios,
são autênticos “arteiros”;

de uma era sem poética,
vêm do sonho acordado,
numa ótica patética,
fazem rumo tresloucado;

eles vêm de algum “inferno”,
para nos atormentar,
fazem tenebroso inverno,
nesse mundo sem lugar.

Nota do autor;
“Dois demônios, Sardônio e Sardaneu, nascidos do nada, das profundezas do inconsciente ou de algum inferno produzido por uma metáfora deste mundo sem lugar, onde vivemos a sonhar e a poetar.”

DELETREANDO



Dato deleite:
deletério delito,
ditou o dito!

Nota do autor:
"Deleta!”

sábado, 1 de janeiro de 2011

SOFISMA


Mera verdade
constrói falsa mentira?
Entende isto?

Nota do autor:
“Até que ponto se pode aceitar um sofisma?”