POEMA DE RIMA RETA

O que fazes de mim agora,
quando dizes que vais embora?
É certo que minh'alma chora,
sempre, não só agora,
é claro que a toda hora.

Fizeste de mim, outrora,
o servo que te adora,
não queres me amar, embora,
eu sofra por dentro e fora,
é óbvio que a toda hora.

TROCA (METAPOEMA)

Sinto-me, no momento, poema,
poema que, ontem, fazia,
poema que, ontem, dizia.

Hoje, sim, eu poeso,
o que, antes, poesia,
e amanhã vou poesar.

Mas, agora, sou poema,
composto pela poesia,
que hoje é poeta.

MANEIRA DE ARTE

Arte de simples maneira,
ela é, por si, inteira,
sempre está, se faz tangente,
já que foi sempre presente.

Linda como natureza,
nela sou toda beleza
do espaço em que repinto,
grande, vasto labirinto.

ONDE ESTÁ O TREM-FUMAÇA?

Na estação, espero o trem,
que demora, que não vem,
ao redor, não há mais nada,
esse trem que já não passa,
não dá ar da sua graça,
uma peça que findou.

Tudo assim virou fumaça,
não há mais o que se faça,
mas deixemos de chalaça,
como vou chegar em casa?
vou ter que dormir na praça,
sem transporte, como estou.

GRANDE ARTISTA

Um menino olhava uma pintura que exibia um pássaro pousado num galho de árvore.
Ele exclamou: "Que pintura linda! Que artista extraordinário!"
Eu lhe perguntei: "Você consegue ver esse pássaro alçar voo, usando sua imaginação?"
Respondeu o menino: "Sim, agora estou vendo ele voar para o céu azul."
Então, sorri e lhe disse: "Você é um artista extraordinário."

SAGRADA NUVEM

Ó, prezada nuvem,
imita-me cousas
a voar sobre vales,
florestas, montanhas.

Ó, amada nuvem,
se o vento tem pressa,
desloca depressa,
as tuas façanhas.

Ó, sagrada nuvem,
porque tu não pousas?
Traz cura aos males
de nossas entranhas.

POEMA A NÓS

Poema sou, poema eu, sou poema. Poema és, poema tu, és poema. Poema somos, poema nós, somos poema.

MEU GALO É POETA

Eu tenho um galo, que é uma piada, canta no embalo, da madrugada. Ele me acorda, isto é o fim, e pinta e borda, cantando assim: pé, ré, pé, pé ... pó, ró, pó, pó ... qué, ré, qué, qué ... có, có, ri, có !!!

MARIPOSA

Olho seu escuro manto, a ouvir seu claro canto, mariposa, voz alada, na linda noite apagada, no voar de suas luzes, eu a vejo, ó minha amada, Mariposa, eu sei que é fada, no veio da longa estrada, em meio a via enfeitada, pela sua incrível asa, leve mundo que extravasa, ao chegar a alvorada.

BEM-TE-VI A SOLFEJAR

O bem-te-vi cantou em mi, e modulou depois em si, para você, fez "ri-pi-pi", ele solfeja sempre ali, você não ouve, não sorri, ao lindo show do bem-te-vi, você se vai ao vê-lo aqui, ao se lembrar dele, só ri, não sabe amar o bem-te-vi.

POESIA E SEU TEMPO (metapoema)

Mesmo que volte ao passado, mesmo que vá ao futuro, poesia, presente, não ignora. Mesmo que tenha raiado, um dia claro ou escuro, poesia é sempre aqui-e-agora.

TROÇA

Que susto, puxa!
No espelho, a bruxa,
feia e "gorduxa" ...

NO CURSO DO SOL

Amo o sol que nasce,
penso no ser que cresce,
vejo na cor da face,
tempo que não fenece.

Curvo, em luz noturna,
formo meu universo,
mas quero voz diurna,
para dizer meu verso.

Sentindo sol que venta,
sigo sem mesmo ver,
como quem sempre tenta,
meu curso de viver.